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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Futuro da BlackBerry depende do sucesso do novo sistema



Com BBX, empresa tenta atrair desenvolvedores e aumentar base de aplicativos, que ainda representa pouco mais de 10% da App Store.


O ano de 2011 não tem sido fácil para a Research in Motion (RIM), fabricante dos smartphones BlackBerry. A empresa perdeu, pela primeira vez, 10% de sua participação de mercado em outubro nos Estados Unidos, de acordo com a consultoria Canalys, e vendeu menos tablets PlayBook do que esperava.
Por isso, a RIM baixou preços e até colocou o aparelho numa liquidação “leve 3, pague 2”. Por fim, os serviços da empresa, como o BlackBerry Messenger (BBM), ficaram fora do ar por três dias após sofreram uma falha global.



Embora os sinais da crise estejam claros, os executivos da empresa dizem que a empresa vai bem. “Nós continuamos a crescer fortemente em todo o mundo e temos um negócio muito robusto”, disse Peter Gould, presidente da Research in Motion (RIM) para o Brasil, em entrevista ao iG na última semana, durante um evento da BlackBerry realizado em São Paulo (SP). “Estamos vendendo muito bem nossos dispositivos na maioria dos países.”


Entre o final de 2010 e junho de 2011, a participação da RIM no mercado global caiu de 16% para 12% segundo dados da consultoria IDC. O resultado só não foi pior porque a empresa se mantém forte em regiões onde o mercado de smartphones demorou mais para se formar. No Brasil, segundo a IDC, a RIM continua entre os quatro maiores fabricantes.


No final de outubro, a empresa anunciou uma nova tentativa para sair da crise: ela lançou a nova versão de sua plataforma para smartphones, a BBX, prevista para chegar aos primeiros smartphones e tablets até o final de 2012. “É o melhor do BlackBerryOS 7 e da plataforma QNX, usada no PlayBook”, diz Gould. Com o novo sistema, totalmente compatível com o padrão HTML5, a empresa espera atrair os desenvolvedores, atualmente mais interessados em plataformas populares como o iPhone e o Android.





Reação demorada


A situação atual da RIM é bem diferente de 2002, quando a empresa foi pioneira no mercado de smartphones, com o lançamento do primeiro dispositivo com acesso a e-mails e edição de relatórios e planilhas. A sorte da empresa começou a mudar em 2007, com a chegada do iPhone e do Android ao mercado, aparelhos com tela sensível ao toque e aplicativos. “A chegada do iPhone mudou o mercado e os competidores tiveram que se ajustar”, diz Luciano Crippa, gerente de pesquisa da IDC.

Enquanto alguns fabricantes adotaram o Android, a RIM apostou em ajustar seu próprio sistema, o BlackBerryOS, para competir com o Android e, por isso, demorou mais a reagir.


Os aparelhos da marca passaram a suportar o download de aplicativos a partir de uma loja virtual própria, a BlackBerry App World, apenas em 2009 e a empresa só lançou seu primeiro smartphone com tela sensível ao toque, o Torch 9800, em agosto de 2010.

Falta de aplicativos


A demora teve um efeito colateral que viria a se tornar o maior desafio da RIM: a falta de interesse dos desenvolvedores e, portanto, poucos aplicativos disponíveis.


Quase três anos após o lançamento, a loja da RIM oferece cerca de 50 mil aplicativos, pouco mais de 10% do total oferecido pela App Store (Apple). O número também é inferior ao total de aplicativos disponíveis no Android Market (cerca de 500 mil) e o Windows Marketplace (cerca de 80 mil).



Gould acredita que o número de aplicativos publicados na loja tende a crescer com o lançamento da BBX e outros esforços recém-anunciados pela empresa, como permitir que aplicativos originalmente desenvolvidos para Android e Adobe Air rodem nos aparelhos da marca. No primeiro caso, será necessário reescrever algumas linhas de código do aplicativo; no segundo, o aplicativo rodará sobre uma camada de software. “Os desenvolvedores vão criar aplicativos para múltiplas plataformas. Focar em apenas uma não é uma decisão muito sábia”, diz Gould.


As opiniões dos desenvolvedores brasileiros se dividem quanto ao futuro sucesso da plataforma BBX. Para Heitor Vital, responsável pela área de tecnologia da produtora de aplicativos Maya, a portabilidade dos aplicativos desenvolvidos em outras linguagens é uma das vantagens da nova plataforma. “A nova proposta tem tudo para atrair novos desenvolvedores e, com isso, criar um ecossistema atraente para o consumidor final”, diz Vital.


Em outra agência, a Ponto Mobi, Terence Reis, diretor de operações, se mantém cético quanto à popularização da nova plataforma. “Já existem duas plataformas, iPhone e Android, com um mercado enorme e uma terceira, o Windows Phone, está chegando com potencial por causa da parceria com a Nokia. Não sei se existe espaço para mais uma”, disse Reis em entrevista ao iG.

De volta às origens


Se a estratégia para vender mais aparelhos para usuários comuns não der certo, a RIM ainda pode recorrer à grande carteira de clientes corporativos, cativos desde a chegada da empresa no mercado.


Embora o número de funcionários que trazem seu próprio smartphone para o trabalho esteja crescendo, a BlackBerry sai na frente com uma gama de aplicativos para ver e editar dados em sistemas corporativos de forma segura. “Nós temos nosso software corporativo instalado em 250 mil empresas em todo o mundo e todos eles usam aplicativos para gerenciar seus negócios”, diz Gould. “O usuário comum é apenas uma parte da história.”

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